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quinta-feira, 8 de março de 2018

QUANDO AS MULHERES NÃO PRECISAM DE SE DESPIR PARA SEREM DESAFIADORAS E INFLUENTES

Bastaria citar Hildegarda de Bingen (1098-1179) para compreender quão pouco conhecemos do papel da mulher na Igreja e o quanto alguns santos serviram de alimento a gente distante da fé. Vive num tempo de papas e antipapas e consegue, surpreendentemente, subtrair-se ao influente clero de Mainz, oferecendo uma leitura totalmente pessoal do seu tempo.

Hildegarda deixa a abastada Disibodenberg, transferindo-se para uma região rupestre, Rupertsberg, fundando um novo mosteiro. Deste “púlpito” fala a papas e imperadores, entra em diálogo com figuras do calibre de S. Bernardo, permanecendo submissa às legítimas autoridades, eclesiásticas e não.

Apresentando a relação entre homem e mulher com surpreendente liberdade, Hildegarda ensina às suas religiosas a serem antes de tudo mulheres, depois cristãs, depois monjas. Com uma antecipação de oito séculos relativamente a Bonhoeffer (que, aprisionado pelos nazis, afirmava a necessidade de se ser crente, e não religioso), exalta a experiência do crente contra categorias religiosas que sufocam o real conhecimento do divino.

Uma mulher assim não deslizou para análises estéreis da realidade, que nunca levam à salvação, mas propôs uma experiência de vida. Lançou uma proposta nova, num tempo difícil dominado por homens. Não precisou de ficar nua para atrair atenções para as suas reivindicações. Todavia, foi um desafio para a estrutura política e religiosa do seu tempo. E também não vestiu roupas “modernas” para agradar ao seu mundo em mudança. Permaneceu monja, educando as suas irmãs através do teatro e do canto, a exprimir-se em beleza, santidade e fé. Não lhe faltaram críticas e transtornos, e no entanto hoje é fonte inesgotável de inspiração para leigos e consagrados.

Fazem falta pessoas assim: figuras políticas, masculinas e femininas, figuras religiosas capazes de produzir frutos constituídos por factos, não por palavras. Pessoas de escolhas corajosas e contracorrente que voltem aos princípios fundadores de uma existência humana digna desse nome e de uma política que ofereça ao cidadão a garantia da vida, sã no corpo e na mente.

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